Estava
à procura das chaves do carro na carteira quando o viu, um pedaço de papel
amarelado. Pegou nele e leu o que tinha escrito: “Quando abrires os olhos
verás”.
Devia
ser da Ermesinda. Tinha-a visto na confeitaria de onde acabara de sair.
Ultimamente cortava rente todas as conversas daquela intriguista e ela devia
tê-lo escrito para a incomodar, como se algo
na sua vida não fosse como devia ser.
Tudo certo como Deus manda.
O seu
marido, Raul, um santo, ficara em casa adoentado, mas insistira em que não
faltasse ao clube de leitura: “vai filhinha, sei como gostas de ir, eu fico
bem”.
Imaginou-o
em casa sozinho e de imediato decidiu. Ia era levar-lhe os bolos que tinha
comprado para o clube, fazia-lhe um chá, contava-lhe do bilhete, rir-se-iam, e
não teria mais importância.
Dito
e feito, já no carro, inverteu a direcção e foi para a casa.
Estacionou
perto da entrada e não pôde deixar de reparar que mais à frente, estava o carro
vermelho da Luísa da farmácia, um pouco escondido sob a sombra do velho cedro.
Era uma mulher vistosa na qual os homens reparavam, sobretudo depois de se ter
separado.
Saiu
do carro e empurrou o portão. Seria capaz
de jurar que o tinha deixado fechado no trinco, mas estava entreaberto.
Abriu
a porta de casa, entrou no hall a meia-luz, e ouviu o som de uma respiração
arfante.
Nessa
altura, pareceu-lhe que o coração lhe parava no peito.
Ai se
o papel era verdadeiro e tinha andado de olhos fechados!
O
barulho parecia vir do quarto e foi para lá que se dirigiu.
Viu
primeiro a Luísa, com uma bata curta e atrás dela, sentado na cama o marido, em
inalações para a constipação.
Voltou
a respirar. O seu Raul era um santo.
30 min antes, Raul telefonara para a farmácia. Um dos empregados atendera.
ResponderEliminarR. - É da farmácia? A D. Luísa está? Obrigado.
L. - Está, diga por favor...
R. - Sou eu Luísa. Ela já saiu. Deve demorar, foi ao clube de leitura...
L. - Que bom! Vou arranjar uma desculpa e vou já ter contigo! Adivinha a cor da lingerie que escolhi...
R. - Espera Luísa, tens de me trazer uma coisa daí da farmácia!
L. Não te preocupes querido, recomecei a tomar a pílula.
R. Não! Não! É que estou adoentado. Preciso que me tragas uma embalagem de Salbutamol para o nebulizador.
L. Ohhh Raul, logo hoje que só tenho vestida aquela bata curtinha que tu adoras...
R. mmm... Luísa... depois de fazer a nebulização, quero ver-te tirar essa batinha...
L. Se prometeres que a seguir me tiras as cuequinhas...
R. Vem! Fico à tua espera!!
Ups!!!
Um beijo
O medo da traição numa relação.
ResponderEliminarÉ óbvia neste contar.
Mas, tem um final tão engraçado.
Não fosse seu marido um Santo.
Um grande beijinho iluminado.💖
Megy Maia