Depois
do almoço foi para a esplanada. Estava ainda calor, embora por vezes nuvens
brancas tapassem o sol e sombreassem as mesas. Sentou-se virado para o mar.
Soprava algum vento e achou que cheirava a maresia.
Mal
se tinha sentado quando um pequeno cão saltou para o seu colo.
Era
tão leve que mal o sentia, mas quando tentou que voltasse para o chão,
rosnou-lhe. Ficou sem saber o que fazer. Mas quem seria o seu dono que tal
enxovalho alheio permitia? Devia ser de uma mulher, porque tinha uma coleira
cor-de-rosa.
Olhou
à sua volta. Uma mulher gorda descia vagarosamente a rua na direcção do café.
Devia ser dela. Só tinha de esperar que chegasse. Quando chamasse o cão, ele
levantar-se-ia para a repreender com severidade: “Isto não se faz minha senhora!”
Imaginou-se rodeado pela concordância dos demais frequentadores da esplanada,
enquanto a mulher de olhos baixos e envergonhada, não saberia o que responder,
até que ele, magnânimo, revelasse com um aceno que aquela vez a desculpava. Enquanto
isto, a mulher entrou para um carro azul que parara na rua para a acolher.
Voltou
a olhar em redor. Deveria ser então da jovem bonita de bikini vermelho, que
lambuzada de gelado namorava o empregado. Quando ela se apercebesse do
ocorrido, viria desculpar-se. Ele sorrir-lhe-ia, “não incomodou nada”, e talvez
ela se sentasse na mesa ao seu lado e ficassem a conversar enquanto faziam
festas ao cãozinho. Mas eis que a jovem vai embora, passando por eles, sem se
deter.
Repara
então que nenhum empregado veio trazer-lhe um café ou receber o seu pedido e
que à sua volta ninguém o parece ver.
O
cão, afinal sozinho no banco, vai ter com o narrador, e ele percebe que era
apenas um personagem, à medida que se dissolve, na trecentésima palavra.
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