terça-feira, 15 de agosto de 2017

28/1 - 5/10 - Sabes que

Sabes que não quero e nunca irei esquecer-me de ti.
Quero guardar tudo, o bom e o mau, porque mesmo uma má memória, se é de algo que vivemos juntos, é importante e preciosa, e agora é só o que tenho de ti.
Estou a escrever-te porque não posso falar contigo e quero crer que de alguma forma poderias ler, como se estivesses atrás de mim a espreitar por cima do meu ombro.
Lembro-me do teu rosto, dos teus abraços, de algumas das palavras e expressões que usavas e eram só tuas. Quando penso nelas, quase consigo ouvir a tua voz.
Quando morreste, o mundo mudou de um momento para o outro. Pareceu-me que atravessava uma linha que me separava para sempre de todos aqueles que não sabem. 
Não sabem que há dores que não passam, nos envolvem e se tornam parte de nós.
Não sabem que apenas com o tempo as conseguimos fechar em alguma gaveta para que fiquem em segundo plano, e possamos continuar a agir como se estivéssemos vivos.
Mas a dor está lá, permanece, e a qualquer momento, pode-se abrir a gaveta.
Então também senti medo porque o meu mundo se desmoronava. Nada fazia sentido porque não devias nem podias ter morrido.
Depois senti raiva. Sabia o que tinha sucedido, mas não conseguia acreditar.
Aceitar foi apenas o acreditar.
Pouco a pouco, quando fui forçada a trocar os nossos antigos hábitos por outros em que tu não estás, deixei de estranhar não te ver, não poder telefonar-te, não estar contigo.
Mas sabes, enquanto eu for eu, não me esquecerei de ti.



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